sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ser ascético ( Fragmentos de um discurso amoroso - Roland Barthes)





ASCESE: Seja por se sentir culpado em relação ao ser amado, seja por querer impressioná-lo com sua infelicidade, o sujeito apaixonado esboça uma conduta ascética de autopunição (maneira de viver, de vestir-se, etc) 

1. Já que sou culpado disso, daquilo (tenho e me dou mil razões de sê-lo), vou me punir, vou arruinar meu corpo: cortar o cabelo curtinho, esconder meu olhar atras de oculos escuros (maneira de entrar para o convento), me dedicar ao estudo de uma ciência abstrata. Vou me levantar cedo, ainda escuro, para trabalhar, feito um monge. Vou ser muito paciente, um pouco triste, em uma só palavra, digno, como convém ao homem do ressentimento. Vou marcar histéricamente meu luto (o luto que suponho) na minha roupa, no corte do cabelo, na regularidade dos meus hábitos. Será um retiro doce; apenas esse pouco de retiro necessário ao bom funcionamento de um patético discreto.


2. A ascese (a veleidade da ascese) se dirige ao outro: volte-se, olhe-me, veja o que você faz de mim. É uma chantagem: ergo diante do outro a figura do meu próprio desaparecimento, tal como ela certamente se produzirá, se ele não ceder (a quê?)

Um comentário:

Kaos Z disse...

ergo diante do outro a figura do meu próprio desaparecimento, tal como ela certamente se produzirá, se ele não ceder (a quê?)

foda

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