segunda-feira, 13 de abril de 2009

Lanterna Japonesa (início)

... A cabeça já não se move mais, mesmo que quizesse ela não tem mais autonomia. Sentada na cozinha como se fosse seu lar, o olhar é fixado na lanterna japones, e os ouvidos não descansam com o zumbido elétrico da geladeira. Daí que Leny reconheceu sua vida. Na constância musical do refrigerador combinado com o sufocador espaço de sua nova casa, busca o aconchego nas margens do que resta, do que lhe foi oferecido. E vai!
Todos os dias olhando a lanterna e pensando em como se livrar das contas. Só lhe resta algumas semanas para quitar as dívidas, mas não receberá o pagamento tão cedo. Os pensamentos vão caminhando e com eles chegam mais perturbações. Os efeitos vão se desmanchando, o cigarro mentolado arde entre os dedos amarelados e a cabeça na mesma posição.
Ela é agora o que estava planejando ser a algum tempo atrás. Nem sempre gosta do que se tornou, não tem segurança para se mostra, e não quer se expor ao ridículo. Não é ridículo!
Mais um sábado desconcertante, sem muitas expectativas e querendo que alguma coisa aconteça. Outra vez a lanterna japonesa encontra Leny e dá bom dia, mas sabia que nada ia lhe trazer novas emoções. O sol pesa, deixando nela o encomodo do calor: aumenta a amargura de existir.
Quando Leny percebeu que não era mais única dentro de si, vendo outras Lenys consigo degladiando-se entendeu a necessidade de se ouvir!
Foi justamente uma delas que levou nossa garota à situação em que se encontra (completamente em construção). Uma delas sussurrava no começo, como brisa despercebida, depois partiu para os berros. Encomodava muito todo esse desespero; doía e cortava feito navalha, algumas vezes sangrava silenciosamente com a fumaça dos três maços de cigarro que elas fumavam. Leny se esgotou que dava dó.
Em plena safra de chuvas, ela não conseguiu mais calar as outras que se batiam, gritavam, choravam e sofriam pelo descaso de sua dona. Uma delas começou a gaguejar, e sabia que teria que ser forte, e era a mais guerreira de todas, mas não tinha o dom da oratória, não saíam muitas certezas, surgiam anceios de mudanças dessas que Leny não queria enfrentar, toda a dor, o sabor fétido de dois corações rasgados. (continua depois...)

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