sábado, 25 de abril de 2009

... Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres ...

.... " Existe um ser que mora em mim dentro de mim como se fosse casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou antes em ninguem nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come as vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vái sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não acerta, mas uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é agente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez"
Ela sorriu. Ulisses ia gostar, ia pensar que o cavalo era ela própria. Era? (p 29)

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