sábado, 24 de outubro de 2009

Sincretismo perdido!




tentou mais uma vez deixar ele de lado, não queria mais a sensação de abrir os olhos e se agonizar pedindo-o que o beijasse, esse café da manhã lhe causaria vários problemas futuros. Deu a volta na casa toda, que era pequenina como seu pulmão, respirava claustrofóbica de tanto ar que penetrava pelo nariz, boca, olhos, ouvidos, entranhas, pele ... ja não tinha mais buracos por onde pudesse passar a pureza de tanta vitalidade. Credo, nem parece que sou eu mesma, indagou-se enquanto segurava a pressão e pegava o pó preto pra brindar o dia ... Eram iguaizinhas, sempre, o que surpreendia era a novidade de um pulmão puro. Não quero mais Fumar! Não quero!
Já era tempo, assustada viu a diferença daquele domingo. Pensou que poderia ser o veneno saindo do corpo. Fez diferente, não fumou, e os sentimentos eram outros, estava demorando, pois quando ligava a fumaça os pensamentos martelavam como enxaquecas. Dessa vez prolongou-se por uns minutos. Surgiram outras percepções.
Suzi fechava os olhos e pensava no que tinha hoje conquistado. Muita força precisou se alinhar pra que ela tivesse a sorte de tudo estar começando a se encaixar. Era perversa consigo, teimosa. Pensava nos projetos pro ano que vem, mas não conseguia pensar o seu prazer. Viu que estava sem prazer. O vai-e-vem da barriga proporcionado pela fumaça sublimava as vontades, era habitual, automático, não sabia nem se era mesmo real a sede que clamava. O cigarro, aquele cigarro que todos abominam, esse era seu unico e verdadeiro amante. Se fazia mulher naquele cheiro, entrelaçava-se nas fumaças e podia dançar. Suplicou uma vida que não tinha mais ...
Programava uma viagem, imaginava o pagamento chegar pra concretizar todos os planos, iria por fim poder relaxar. Nunca mais viveu, não mais gozou a energia trocada. Era tensa a cada segundo no presente. Rigida, árvore que não permitia-se experimentar, sustentava todos os galhos, as folhas, os pássaros, e esperava o inverno precioso, com esperança pra liberdade. Não precisava de mar, nem de ilha, nem mesmo de cachoeira, essas alternativas ja não eram válidas pras suas ocasiões. Precisou soltar. Uma lágrima deu bom dia, e as outras congestionaram seu nariz. Soluçou e viu que ja passava do meio dia. Percebeu por conta do cheiro fétido da carne assada do vizinho que entrava como tufão pela janela.
Uma raiva, duas pitadas de dó, cinco colheres cheias de angústia. Isso tudo ela soube misturar, preparou junto das lágrimas uma bomba pros seus pulmões. Fazia 6 horas que não exalava nenhuma fumaça...
Amassou e engoliu ...
Fumou depois de dois dias e explodiu no ar ...

Ass: Nós

2 comentários:

mauricio disse...

delicia de conto...daqueles que a gente le até o final e fica com gosto de quero mais. ^^

Sati Sukalpa disse...

Nossa. sufocante, minha respiração caminhou ofegou e até parou enquanto sentia os olhos nesse derramar.

Gostei muito, muito bom! e sempre se encherga muito da Cléo por ai...
beijos querida continue!!
( não com os cigarro srsr )

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